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Rock ‘n’ Roll Animal (Lou Reed, 1974) by camilodiniz
setembro 28, 2011, 6:43 pm
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Rock 'n' Roll Animal

por Camilo Diniz

Muito se fala acerca da versatilidade musical de David Bowie e Iggy Pop, chamados frequentemente de camaleões do rock, todavia se subestima a mesma capacidade do vértice da chamada “santíssima trindade do rock”, Lou Reed, que influenciou toda uma geração de músicos, notadamente os outros membros da tríade citada.

De trovador soturno das esquinas de New York, à época dos primeiros discos do The Velvet Underground, passando por glam rocker no disco Transformer e poeta sofredor e deprimido em Berlin, Lou Reed, a despeito de tão metamórfico quanto seus colegas, é muito pouco lembrado neste quesito.

Após sua saída do Velvet Underground, Reed encontrou em David Bowie o apoio necessário para, finalmente, obter sucesso em sua obra, sempre controversa e quase nunca compreendida. O resultado foi Tranformer, talvez o maior sucesso do ano de 1972, o que fez de Lou Reed o artista do ano na Inglaterra, superando nomes consagrados como Mick Jagger, o próprio Bowie e Eric Clapton. Finalmente alcançara o reconhecimento que não veio com o Velvet, o que o colocou em situação financeira confortável.

Todavia, a vida pessoal de Reed estava em cacos devido à sua crise no casamento e vício em drogas, o que refletiu profundamente na produção do seu próximo disco, Berlin, talvez um dos mais depressivos da história do rock, duramente criticado na época, todavia reconhecido hoje como um dos registros definitivos da música.

Na esteira da crise de relacionamento, vício em drogas, brigas sérias com David Bowie e incompreensão da crítica, Lou Reed iniciou sua nova turnê, marcada pela agressividade incomum, semelhante apenas à experimentada no disco White Light/White Heat , o que o colocou no mesmo patamar de Iggy Pop, padrão até os dias de hoje no que se refere à visceralidade e agressividade no rock.

A turnê, denominada Rock ‘N’ Roll Animal resultou na gravação de um álbum homônimo ao vivo, em New York, como não poderia deixar de ser, e mostra um Lou Reed dialogando com o hard rock, sem perder a essência glam da época, cantando basicamente canções do Velvet Underground e uma do disco Berlin.

O disco é aberto com uma longa introdução, seguida de uma arrebatadora versão de Sweet Jane, um tanto quanto diferente da encontrada no Loaded. A seguir, a autobiográfica Heroin, que refletia o vício em heroína cada vez mais incontrolável de Lou Reed. Em White Light/White Heat, outro clássico do Velvet, tocado com ainda mais intensidade, marca de todo o álbum. Lady Day, única das faixas do álbum proveniente da sua carreira solo, a tristeza do Berlin é tornada ainda mais comovente e ferina. Por fim, Rock ‘n’ Roll, também do Velvet Underground, traz uma mensagem de esperança de uma menina que teve sua vida salva pelo Rock. Talvez fosse essa a perspectiva de Lou Reed.

A visceralidade do Rock ‘n’ Roll Animal foi mais uma das múltiplas transformações de Lou Reed que o tornam tão versáteis quanto seus discípulos David Bowie e Iggy Pop. Pouco tempo após sua gravação, Reed faria sua mais ousada transformação, gravando o até hoje incompreendido Metal Machine Music, talvez o mais controverso disco de todos os tempos.

4.5/5

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Ficha Técnica

Rock ‘n’ Roll Animal (Lou Reed) 1968. Lou Reed (vocais), Pentti “Whitey” Glan (bateria, percussão), Steve Hunter (guitarra), Prakash John (baixo, vocais de apoio), Dick Wagner (guitarra, vocais de apoio), Ray Colcord (teclado)

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Tracklist

  1. Intro/Sweet Jane
  2. Heroin
  3. White Light/White Heat
  4. Lady Day
  5. Rock ‘n’ Roll

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Faixa Recomendada:



Don’t Be Fooled by the Name (Geordie, 1974) by Luiz Carlos

– Luiz Carlos Freitas

Em 1980, o mundo conhecia Brian Johnson, o jovem cantor que havia sido escolhido para assumir os vocais do AC/DC após o falecimento trágico e repentino de Bon Scott no começo do ano. Num intervalo curtíssimo de tempo, ele se tranca num estúdio (capitaneado pelos irmãos Young) e debuta no grupo com o Back in Black, disco que viria a ser um dos trabalhos mais icônic0s e bem sucedidos de toda a história da música. O AC/DC reafirmava sua força aos que colocavam o destino da banda como incerto após a morte de Bon Scott e boa parte desse feito era devido ao seu novo frontman. Mas o que poucos sabem é que Brian já tinha sua própria banda e já gozava de notado prestígio quase uma década antes de sua entrada no AC/DC.

Formado em 1972 pelo guitarrista Vic Malcolm (líder da banda), contava com Brian Johnson nos vocais, Tom Hill no baixo e Brian Gibson na bateria. O nome do grupo era oriundo de “Geordie”, denominação popular aos indivíduos nascidos ao norte da Inglaterra e que se caracterizavam por um orgulho extremo de suas origens. Mais que o nome, isso caracterizou as composições da banda (todas de autoria de Vic Malcolm), sempre abordando questões locais como as dificuldades de seu povo, a vida dura de trabalho nas grandes fábricas (a região era uma zona industrial) e a resistência frente ao paredão nacionalista que por vezes os excluía do resto do país.

Obteve uma boa recepção com seu primeiro álbum, Hope You Like It, mas foi em 1974, com seu segundo trabalho, Don’t Be Fooled by the Name, que decolaram de Newcastle ao mundo. Mais que um grande êxito comercial, Don’t Be Fooled by the Name estabelecia a identidade musical do Geordie. Desde o seu surgimento, oscilava entre vários estilos, se autodenominando Glam (eles se apresentavam com toda a indumentária característica, dos saltos plataforma e roupas coloridas e elaboradas a longos cabelos e maquiagem pesada), mas com uma sonoridade que pendia mais para o Hard Rock e psicodelismo, alternando num tom que lembrava de The Doors a Deep Purple.

Em Don’t Be Fooled by the Name o Geordie continua com a diversificação de estilos, mas agora não mais como uma experimentação apenas. De ‘Goin’ Down’ e ‘So What’, músicas mais simples e de batida rápida, às elaborações de ‘Mercenary Man’ e ‘Ten Feet Tall’ (que se complementam na melodia e arranjos), ‘Got to Know’ e ‘Look At Me’, até a belíssima balada ‘Little Boy’, o Geordie apresenta um excelente hard rock com pegadas de blues, conduzidos pela guitarra afiada de Vic Malcolm e o vocal característico e poderoso de Brian, talvez o principal responsável pela sinergia do conjunto.

Apesar de marcado por seu canto agressivo e voz rasgada no AC/DC, Brian nunca teve seu real potencial vocal aproveitado pela banda australiana como no Geordie. Um exemplo disso é a segunda faixa do disco, uma versão poderosa de ‘House of the Rising Sun’ (antiga canção popular americana de autor desconhecido e regravada por um sem número de artistas), carregada em longas extensões e falsetes, diferente de tudo que já tenha sido ouvido dele junto ao AC/DC.

Contudo, mesmo apresentando um excelente conjunto de músicos e obtendo êxito comercial à época, o grupo não foi pra frente após aqui. Lançou mais alguns álbuns, mas todos de repercusão irrelevante, o que não os impediu de persistir e, capitaneados pelo sempre esperançoso Brian Johnson, continuaram se apresentando para pequenas platéias, lançando singles aqui e ali, travando uma verdadeira batalha contra todo o cenário musical que não os recebia mais. Irônicamente, em 1980, ao mesmo tempo que Brian Johnson se vê diante da oportunidade de sua vida, o Geordie contempla seu maior “inimigo”, perdendo seu vocalista e “capitão de batalha” e caindo definitivamente no esquecimento. Mas seu legado, mesmo que breve e obscuro à maioria, permanece.

4/5

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Ficha Técnica:

Don’t Be Fooled by the Name (Geordie) – 1974/Reino Unido – Integrantes: Brian Johnson (vocal), Vic Malcolm (guitarra), Tom Hill (baixo), Brian Gibson (bateria)

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Tracklist:

1. Goin’ Down
2. House of the Rising Sun
3. So What
4. Mercenary Man
5. Ten Feet Tall
6. Got to Know
7. Little Boy
8. Look at Me

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Faixa Recomendada:



The Heart of Saturday Night (Tom Waits, 1974) by Bernardo Brum
julho 26, 2011, 9:21 pm
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por Bernardo Brum

Qualquer pensador tem seu ideal de plenitude existencial. Nos ensinamentos de Siddartha Gautama, é a liberação de todo o sofrimento através da compreensão e exercício das Quatro Verdades Nobres. Para Aristóteles, ela é alcançada através da prática do bem. Nietzsche escreveu sobre o conceito do Super-Homem. Kant falava do imperativo categórico.

E o que seria a felicidade, o pote de ouro no fim do arco-íris, para Tom Waits? Ele já a chamou de muitos nomes e aqui ele chama de The Heart of Saturday Night, seu segundo registro que mesmo ainda calcado no smooth jazz, já começa  a demonstrar características que tornariam sua persona excêntrica algo único na história recente da música – como o início do surgimento da voz bêbada que acabariam desembocando naquela estranha voz gutural desenvolvida a partir da segunda metade da década de setenta e desde então nunca mais abandonada.

Os temas continuavam praticamente os mesmos do debut Closing Time:  a obsessão em retratar a vida  dos indivíduos “perdidos” das grandes metrópoles. A escória, se quer saber. O tipo baixo e invisível de gente. Tom quer dar voz à eles. O que eles esperam da vida? Para eles, o que e plenitude? Se rebuscadas figuras da história das idéias discutem há milhares de anos e não conseguem entrar em concordância, conseguiriam os ébrios e vagabundos acrescentar algo ao debate?

Com essa voz herética e fanfarrona das ruas que Tom Waits, com seu conceito único de fazer música , destila seu jazz bêbado entre frases muito ilustrativas sobre a sua visão particular de mundo: desde pequenas epifanias sobre o medo de perder o prazer de viver uma existência confusa – “Se eu exorcizar meus demônios, pode ser que meus anjos também vão embora” em Please Call Me, Baby -, até pura alucinação lírica bêbada (“E eu estou cego por néons/Não tente mudar minha melodia/Por que acho que ouvi um saxofone/Eu estou bêbado na lua”, diz em Drunk on The Moon).

Claro, como sempre, não são só essas flechadas de existencialismo tão simples porém tão complexo que ele lança nas nossas orelhas – ainda há  bastante do romantismo lamurioso de Closing Time em músicas como San Diego Serenade, onde o eu lírico, ainda um neófito no coração e nas ruas, paga suas dívidas com tudo que o fez crescer e conhecer mais momentos da vida (em antecanto, diz coisas como “Eu nunca disse eu te amo até te amaldiçoar em vão”, “Eu nunca vi a luz do luar até ela refletir no seu peito”, “Eu nunca ouvi a melodia, até precisar de uma canção”) ou em Shivers Me Timbers, verdadeiro resquício do espírito beatnik, uma música sobre abandonar tudo, não conhecer ninguém mas seguir em frente com isso e, quem sabe, até se sentir leve (“meu corpo está em casa, mas meu coração está no vento”).

O abandono quase total do folk e a preferência pelo jazz é bem notado em músicas como na cadenciada abertura New Coat of Paint, na malandra Diamonds on my Winshield e na verdadeira trilha sonora de bar Fumblin’ with the Blues, mas ainda sobrevive na faixa-título, The Heart of Saturday Night, um verdadeiro resumo do pensamento que Waits tem tentado erigir por toda a sua carreira artística:  “Bem, você acelerou/Atrás do volante/Com o seu braço ao redor de seu docinho/No seu Oldsmobile/Descendo rápido a avenida/Você está procurando pelo coração de sábado à noite”, onde Tom descreve o tipo de pessoa com o qual se identifica e vive tentando descrever: classe média-baixa, entediantes e entediados durante a semana, mas caçadores de uma emoção bêbada quando chega o sábado: é o tal nirvana dos vagabundos, sem dogma específico para seguir, mas sempre com um objetivo comum – alcançar aquele instante único, e sem palavras. Pode parecer complicado, mas é simples de entender, assim como tocante: não à toa, é uma das músicas mais regravadas do artista .

A maioria das letras de Waits descreve que, talvez, a existência afinal não seja plena – apesar de ser muito deliciosa em certos momentos onde dor e tristeza não parecem existir, apesar do medo  ser uma figura constante. O conflito entre duas forças antagônicas – sexo e morte – que existe em tais aventuras semanais é expresso em estrofes como “Se apaixonar é uma brisa e tanto/Mas ficar em pé é difícil para mim/Eu quero te apertar mas tenho tanto medo de quebrar sua coluna” em Fumblin’ with the Blues, mas que também tem seu lado esperançoso – “Vamos botar uma nova camada de tinta/nessa cidade velha e solitária/(…)/Você põe um vestido, querida/Eu uso uma gravata/Vamos rir dessa lua injetada de sangue/Em um céu de vinho”, canta em New Coat of Paint.

O projeto estético de Tom estava um tanto encaminhado em seu segundo disco – a amargura de alguém em eterna ressaca de Closing Time logo assumiu de vez seu lado filósofo de bar em seu segundo registro. Ainda que as idéias tenham amadurecido, ainda havia algo daquele homem carente e embriagado da estréia discográfica.

Mas ele começava a sonhar mais alto em seu conceito de música. Ouvir o disco em sequência ao primeiro denota alguém que, mesmo ainda inseguro certas vezes sobre que estilo adotar (insegurança que trasformaria em pura vanguarda anos depois) para descrever as histórias e evocar as figuras, já sabia bem quem queria atingir.

E que tipo de debates queria inflamar, afinal fora aqueles indivíduos que querem acumular grande capital individual, almejar distribuição de renda igualitária, procurar a libertação individual através de doutrinas e idéias ou buscam melhorar o mundo que vêem através da escrita de conceitos, há também um que, como é descrito em The Ghosts of Saturday Night,  “procura dentro de sua capa/por suas últimas guimbas de Kents/Enquanto sonha com a garçonete com olhos de Maxwell House/E coxas de marmelada com cabelos louros mexidos”. Uma idéia de plenitude estranha e pouco usual, mas que não pode ser ignorada; quem são esses derrotados que almejam tão pouco da vida e tem sonhos tão pouco modestos? Cães vadios ignorados por muitas doutrinas, ideias e dogmas; mas tão velhos quanto o mundo; e tão líricos e complexos quanto a música de Waits.

4/5

The Heart of Saturday Night (Tom Waits) – 1974 – EUA. Integrantes: Tom Waits (vocais, piano, violão), Jim Hughart (contrabaixo), Pete Chrstlieb (sax tenor), Bill Goodwin (bateria) e Bob Alcivar (arranjador).


Tracklist:

Lado A:

1. New Coat of Paint
2. San Diego Serenade
3. Semi Suite
4. Shivers Me Timbers
5. Diamonds on my Windshield
6. (Looking For) The Heart of Saturday Night)

Lado B:

1. Fumblin’ with the Blues
2. Please Call me, Baby
3. Depot, Depot
4. Drunk on The Moon
5. The Ghosts of Saturday Night (After Hours at Napoleone’s Pizza House)


Faixa recomendada:



Country Life (Roxy Music, 1974) by Bernardo Brum
junho 25, 2011, 3:14 pm
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por Bernardo Brum

Do levante glam dos anos 70, os britânicos Roxy Music sempre estiveram entre os menos lembrados, sem jamais igualar, por exemplo, David Bowie ou T. Rex. Mas isso não impediu de transformar o grupo em uma banda cult, principalmente devido a seus dois líderes, Bryan Ferry e Brian Eno. A parceria entre os dois só durou os dois primeiros álbuns da banda, Roxy Music e For Your Pleasure, mas provou ser fundamental na construção da estética conceitual cruzando estética vintage e futurismo, sofisticação e sensualidade, clacissismo e vanguarda. Sua concepção artística foi fundamental, por exemplo, para a fundação da new wave.

Mas Ferry, com sua personalidade um tanto dominante, que acabou por ser o norte da banda. Mesmo com a experimentação visionária de Eno, da paixão  do saxofonista Andy MacKay por música erudita e da formação progressiva do guitarrista Phil Manzanera, Bryan impôs o que seria o Roxy Music. Eno foi um dos primeiros a abandonar o barco.

Sem um dos lados da balança criativa para “faiscar”, o Roxy Music virou o “darling” do galanteador e extravagante Ferry. Não que isso tenha sido de todo ruim (afinal, o maior sucesso mercadológico da banda, More Than  This, é de 1982), mas certamente, sem alguns toques geniais de Eno, algo iria se perder. Ferry, tendo consciência disso, chamou o tecladista e violinista Eddie Jobson. Dos três discos que ele gravou entre 73 e 76 (ano do primeiro término da banda), Country Life talvez seja o mais maduro e bem acabado, figurando como um dos melhores discos da banda.

A nova adição mostrou-se acertada; se saíam a experimentação dos sintetizadores de Eno, a beleza que Jobson adiciona em faixas como a melancólica Out of The Blue comprova que estamos ouvindo um disco de alto nível ou a pulsante abertura The Thrill of It All e absurdamente dançante All I Want Is You. O álbum tem um tom nitidamente mais simples se comparado com o que era feito anteriormente – a doçura e acessibilidade pop de músicas como Three and Nine e Prairie Rose não deixam mentir, apesar de momentos mais elaborados na segunda metade, com Tryptich e seus coros.

As letras fazem jus a capa: apesar de ainda “maquiados” com figurinos extravagantes e referências complexas, Country Life também é despido e transparente. Muitas vezes, as letras evocam a necessidade de uma espécie de exorcismo pessoal muitas vezes descrevendo relacionamentos tempestuosos e complicados  (“Se eu fosse você, /eu ficaria por algum tempo/Se você fosse eu,/Você sairia com estilo?” em Out of The Blue e “E agora, quando você se vira para sair/Você tenta forçar um sorriso/Como se fosse compensar/Então você quebra e chora” em Bittersweet). É um disco notoriamente mais pé no chão, mais anos setenta, do que a salada mezzo futurista/mezzo vintage praticada no início da banda.

Mas nem tudo são espinhos no disco; há também a sensualidade abusiva de If It Takes All Night, com seu delicioso baixo que cai como uma luva na concepção inicial de Ferry do Roxy Music – que compõe junto com All I Want Is You e The Thrill of It All o terço mais leve e dançante do disco. Como a banda que o concebeu, é um disco notoriamente de momentos, uns inspirados, outros nem tanto, uns vibrantes e quase alegres, outros explicitamente duros, como a gravidade cadenciada com a qual Bittersweet é regida (que chega a incluir versos em alemão).

Roxy Music não é, realmente, uma banda das mais fáceis. A atenção à virtuose instrumental, elaboradíssima, serve a um conceito não menos fácil, que pula dos anos trinta para a ficção científica com  a adição de um instrumento ou alguma referência nova nas roupas/capas/letras. Formado em escola de arte, Ferry tinha uma consciência, um propósito e um controle inigualável sobre a imagem que queria criar e difundir.

Country Life é outro exemplo dessa mente criativa um tanto singular que fundou uma carreira se não tão memorável quanto a de outros contemporâneos, com um legado e relevância musical muito importantes, ainda que não tão reconhecido. Duvido que metade da estética sonora do rock oitentista existisse não fosse por causa de Ferry, Eno e seus comparsas. Complexo, porém simples. Pop, mas não menos classudo. Andrógino e conservador. Os tipos de paradoxos que só eles saberiam explicar – e fazer boa música com isso.

3,5/5
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Country Life (Roxy Music) – 1974 – Integrantes: Bryan Ferry (vocais e teclados), John Gustafson (baixo), Eddie Jobson (violino, sintetizador, teclados), Andrew McKay (saxofone e oboé), Phil Manzanera (guitarra) e Paul Thompson (bateria).
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Lado A
  1. The Thrill of It All
  2. Three and Nine
  3. All I Want Is You
  4. Out of the Blue
  5. If It Takes All Night
Lado B
  1. Bitter-Sweet
  2. Triptych
  3. Casanova
  4. A Really Good Time
  5. Prairie Rose

Faixa recomendada: