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Appetite for Destruction (Guns N’ Roses, 1987) by Rita Gomes
outubro 16, 2011, 8:44 pm
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– Rita Gomes

O cenário musical dos anos 80 cheirava a Glam metal, ao (injustamente) chamado rock farofa, onde bandas como Mötley Crüe, Cinderella e Skid Row apresentavam mais do que apenas belos riffs de guitarra e refrões bem ensaiados, mas uma estética andrógina paradoxal às canções permeadas por temas como mulheres, sexo e bebidas. O hard rock parecia estar cada vez mais fadado a ser capitaneado por bandas que cultuavam a imagem acima da própria produção musical.

Quando surgiu no cenário musical, o Gun N’ Roses parecia apenas mais uma banda de hard rock com um vocalista bonitão de cabelos compridos. Ledo engano.  Appetite for Destruction trouxe elementos mais crus, por assim dizer, à estética do período, tanto no visual bad boy assumido pela banda quanto na sonoridade mais heavy, mais rock.

Canção de rock calcada nas guitarras de Izzy e Slash, Welcome to the jungle abre o álbum, já demonstrando a natureza hard das músicas do grupo. Também conta com os hits Paradise City, Rocket Queen, It’s so easy, Mr. Browstone  Sweet Child O’Mine.

Em grande parte, as músicas foram compostas durante o período em que a banda se apresentou por bares e clubs de Los Angeles, espelhando a maneira desregrada e alucinada que os integrantes viviam. Temas como a vida dura na cidade (Welcome to the jungle), o tédio que sucede a conquista (It’s so easy) e, claro, drogas (Mr. Browstone).

O maior hit, Sweet Child O’Mine, foi composto em homenagem a então namorada de Axl, Erin Everly. Seu riff, um dos mais conhecidos do rock, foi composto por Slash, Izzy e Duffy, enquanto Axl trabalhava a letra. Canção mais conhecida da banda, tornou-se um clássico do hard rock.

É bom deixar claro: mesmo sendo mais hard rock, o Guns ainda é uma banda “farofa”. A maneira como Axl idolatrava sua própria figura, a própria imagem da banda e todo o hedonismo que os cercava fazem com que o Guns N’ Roses se aproxime muito mais da imagem glam rock do que os afaste.

Verdade seja dita: mesmo aparentemente sendo apenas mais uma banda “farofa”, a sonoridade do Guns, ao ser mais pesada que outras de outras bandas no mesmo período, ajudou a disseminar o rock. Apesar da própria decadência do estilo, visto que toda a farofice dos anos 80 virou pó no início da década de 90, o Guns ainda é banda referência de hard rock.

O álbum contém uma combinação poderosa: boas músicas, uma banda insanamente afinada, em sua melhor formação, e um vocalista inspirado. Após este debut oficial, a banda ainda traria ao mundo mais alguns bons álbuns (Use your illusion I e II, Spaghetti Incident), mas os rumos tomados com a saída gradual dos membros originais só aumentaram a nostalgia pela verve antiga. Melhor lembrar de Guns com este álbum.

4,5/5

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Ficha Técnica:

Appetite for Destruction (Guns N’roses) – 1987 – Estados Unidos. Integrantes: Axl Rose (vocais, percussão, sintetizador e apito), Slash (guitarra solo, guitarra rítmica e talkbox), Izzy Stradlin (guitarra rítmica, backing vocals, guitarra solo e percussão), Duffy McKagan (baixo e backing vocals) e Steve Adler  (bateria)

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Tracklist

  1. Welcome to the jungle
  2. It’s so easy
  3. Nightrain
  4. Out Ta Get Me
  5. Mr. Brownstone
  6. Paradise City
  7. My Michelle
  8. Think About You
  9. Sweet Child O’ Mine
  10. You’re Crazy
  11. Anything Goes
  12. Rocket Queen
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Faixa recomendada:


Rock ‘n’ Roll Animal (Lou Reed, 1974) by camilodiniz
setembro 28, 2011, 6:43 pm
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Rock 'n' Roll Animal

por Camilo Diniz

Muito se fala acerca da versatilidade musical de David Bowie e Iggy Pop, chamados frequentemente de camaleões do rock, todavia se subestima a mesma capacidade do vértice da chamada “santíssima trindade do rock”, Lou Reed, que influenciou toda uma geração de músicos, notadamente os outros membros da tríade citada.

De trovador soturno das esquinas de New York, à época dos primeiros discos do The Velvet Underground, passando por glam rocker no disco Transformer e poeta sofredor e deprimido em Berlin, Lou Reed, a despeito de tão metamórfico quanto seus colegas, é muito pouco lembrado neste quesito.

Após sua saída do Velvet Underground, Reed encontrou em David Bowie o apoio necessário para, finalmente, obter sucesso em sua obra, sempre controversa e quase nunca compreendida. O resultado foi Tranformer, talvez o maior sucesso do ano de 1972, o que fez de Lou Reed o artista do ano na Inglaterra, superando nomes consagrados como Mick Jagger, o próprio Bowie e Eric Clapton. Finalmente alcançara o reconhecimento que não veio com o Velvet, o que o colocou em situação financeira confortável.

Todavia, a vida pessoal de Reed estava em cacos devido à sua crise no casamento e vício em drogas, o que refletiu profundamente na produção do seu próximo disco, Berlin, talvez um dos mais depressivos da história do rock, duramente criticado na época, todavia reconhecido hoje como um dos registros definitivos da música.

Na esteira da crise de relacionamento, vício em drogas, brigas sérias com David Bowie e incompreensão da crítica, Lou Reed iniciou sua nova turnê, marcada pela agressividade incomum, semelhante apenas à experimentada no disco White Light/White Heat , o que o colocou no mesmo patamar de Iggy Pop, padrão até os dias de hoje no que se refere à visceralidade e agressividade no rock.

A turnê, denominada Rock ‘N’ Roll Animal resultou na gravação de um álbum homônimo ao vivo, em New York, como não poderia deixar de ser, e mostra um Lou Reed dialogando com o hard rock, sem perder a essência glam da época, cantando basicamente canções do Velvet Underground e uma do disco Berlin.

O disco é aberto com uma longa introdução, seguida de uma arrebatadora versão de Sweet Jane, um tanto quanto diferente da encontrada no Loaded. A seguir, a autobiográfica Heroin, que refletia o vício em heroína cada vez mais incontrolável de Lou Reed. Em White Light/White Heat, outro clássico do Velvet, tocado com ainda mais intensidade, marca de todo o álbum. Lady Day, única das faixas do álbum proveniente da sua carreira solo, a tristeza do Berlin é tornada ainda mais comovente e ferina. Por fim, Rock ‘n’ Roll, também do Velvet Underground, traz uma mensagem de esperança de uma menina que teve sua vida salva pelo Rock. Talvez fosse essa a perspectiva de Lou Reed.

A visceralidade do Rock ‘n’ Roll Animal foi mais uma das múltiplas transformações de Lou Reed que o tornam tão versáteis quanto seus discípulos David Bowie e Iggy Pop. Pouco tempo após sua gravação, Reed faria sua mais ousada transformação, gravando o até hoje incompreendido Metal Machine Music, talvez o mais controverso disco de todos os tempos.

4.5/5

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Ficha Técnica

Rock ‘n’ Roll Animal (Lou Reed) 1968. Lou Reed (vocais), Pentti “Whitey” Glan (bateria, percussão), Steve Hunter (guitarra), Prakash John (baixo, vocais de apoio), Dick Wagner (guitarra, vocais de apoio), Ray Colcord (teclado)

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Tracklist

  1. Intro/Sweet Jane
  2. Heroin
  3. White Light/White Heat
  4. Lady Day
  5. Rock ‘n’ Roll

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Faixa Recomendada:



Don’t Be Fooled by the Name (Geordie, 1974) by Luiz Carlos

– Luiz Carlos Freitas

Em 1980, o mundo conhecia Brian Johnson, o jovem cantor que havia sido escolhido para assumir os vocais do AC/DC após o falecimento trágico e repentino de Bon Scott no começo do ano. Num intervalo curtíssimo de tempo, ele se tranca num estúdio (capitaneado pelos irmãos Young) e debuta no grupo com o Back in Black, disco que viria a ser um dos trabalhos mais icônic0s e bem sucedidos de toda a história da música. O AC/DC reafirmava sua força aos que colocavam o destino da banda como incerto após a morte de Bon Scott e boa parte desse feito era devido ao seu novo frontman. Mas o que poucos sabem é que Brian já tinha sua própria banda e já gozava de notado prestígio quase uma década antes de sua entrada no AC/DC.

Formado em 1972 pelo guitarrista Vic Malcolm (líder da banda), contava com Brian Johnson nos vocais, Tom Hill no baixo e Brian Gibson na bateria. O nome do grupo era oriundo de “Geordie”, denominação popular aos indivíduos nascidos ao norte da Inglaterra e que se caracterizavam por um orgulho extremo de suas origens. Mais que o nome, isso caracterizou as composições da banda (todas de autoria de Vic Malcolm), sempre abordando questões locais como as dificuldades de seu povo, a vida dura de trabalho nas grandes fábricas (a região era uma zona industrial) e a resistência frente ao paredão nacionalista que por vezes os excluía do resto do país.

Obteve uma boa recepção com seu primeiro álbum, Hope You Like It, mas foi em 1974, com seu segundo trabalho, Don’t Be Fooled by the Name, que decolaram de Newcastle ao mundo. Mais que um grande êxito comercial, Don’t Be Fooled by the Name estabelecia a identidade musical do Geordie. Desde o seu surgimento, oscilava entre vários estilos, se autodenominando Glam (eles se apresentavam com toda a indumentária característica, dos saltos plataforma e roupas coloridas e elaboradas a longos cabelos e maquiagem pesada), mas com uma sonoridade que pendia mais para o Hard Rock e psicodelismo, alternando num tom que lembrava de The Doors a Deep Purple.

Em Don’t Be Fooled by the Name o Geordie continua com a diversificação de estilos, mas agora não mais como uma experimentação apenas. De ‘Goin’ Down’ e ‘So What’, músicas mais simples e de batida rápida, às elaborações de ‘Mercenary Man’ e ‘Ten Feet Tall’ (que se complementam na melodia e arranjos), ‘Got to Know’ e ‘Look At Me’, até a belíssima balada ‘Little Boy’, o Geordie apresenta um excelente hard rock com pegadas de blues, conduzidos pela guitarra afiada de Vic Malcolm e o vocal característico e poderoso de Brian, talvez o principal responsável pela sinergia do conjunto.

Apesar de marcado por seu canto agressivo e voz rasgada no AC/DC, Brian nunca teve seu real potencial vocal aproveitado pela banda australiana como no Geordie. Um exemplo disso é a segunda faixa do disco, uma versão poderosa de ‘House of the Rising Sun’ (antiga canção popular americana de autor desconhecido e regravada por um sem número de artistas), carregada em longas extensões e falsetes, diferente de tudo que já tenha sido ouvido dele junto ao AC/DC.

Contudo, mesmo apresentando um excelente conjunto de músicos e obtendo êxito comercial à época, o grupo não foi pra frente após aqui. Lançou mais alguns álbuns, mas todos de repercusão irrelevante, o que não os impediu de persistir e, capitaneados pelo sempre esperançoso Brian Johnson, continuaram se apresentando para pequenas platéias, lançando singles aqui e ali, travando uma verdadeira batalha contra todo o cenário musical que não os recebia mais. Irônicamente, em 1980, ao mesmo tempo que Brian Johnson se vê diante da oportunidade de sua vida, o Geordie contempla seu maior “inimigo”, perdendo seu vocalista e “capitão de batalha” e caindo definitivamente no esquecimento. Mas seu legado, mesmo que breve e obscuro à maioria, permanece.

4/5

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Ficha Técnica:

Don’t Be Fooled by the Name (Geordie) – 1974/Reino Unido – Integrantes: Brian Johnson (vocal), Vic Malcolm (guitarra), Tom Hill (baixo), Brian Gibson (bateria)

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Tracklist:

1. Goin’ Down
2. House of the Rising Sun
3. So What
4. Mercenary Man
5. Ten Feet Tall
6. Got to Know
7. Little Boy
8. Look at Me

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